terça-feira, 8 de novembro de 2011

Raia de caldeirada com uma pequena dissonância

A minha relação com o peixe é complexa. Os ódios e as paixões sucedem-se no tempo. Desconfio das texturas e dos odores. Excepção feita ao bacalhau e ao linguado espécimes em relação às quais não alimento reservas. Mas apesar deste clima de suspeita por vezes gosto de ir até ao mercado de Algés, comprar peixe. Foi o que aconteceu no sábado passado em que resolvi comprar raia para satisfazer o meu marido, que nos seus tempos de estudante, em França, comia com frequência este peixe. Pedi uns conselhos à peixeira sobre formas de cozinhar a raia e ela referiu a possibilidade de fazer uma caldeirada, cujo molho poderia engrossar com fígado do animal. Achei a ideia excelente. Pensei logo nos ómega 3 que ficariam a boiar no líquido. Tão saudáveis! Só não me lembrei de um problema importante - o cheiro, o horrível cheiro.

A confecção da raia, que em termos de paladar até estava gostosa, transformou-se num episódio trágico-cómico que exigiu a intervenção de grandes quantidades de spray de alfazema, para "purificar" o ar. Parecia que tinha derramado um frasco de óleo de fígado de bacalhau na cozinha. Depois, o odor forte espalhou-se pela casa. O meu marido protestava, como era possível eu ter colocado fígado no molho. Uma raia que poderia estar tão gostosa se não fosse este pequeno pormenor. Um peixe que nem costuma ter cheiro, dizia-me ele, enquanto se apressava a tapar o tacho! Enfim, hoje a tragédia terminou com os restos a irem para o lixo, porque tive consciência que eu não resistiria às moléculas que surgiriam de imediato na atmosfera da minha cozinha, caso me atrevesse a aquecer a raia e o respectivo molho. Não sei mesmo se o casamento não ficaria em perigo. Pelo menos eu seria ameaçada com uma ida de emergência ao restaurante mais próximo. De qualquer forma deixo-vos a base da receita e aconselho-as vivamente a não adicionarem os "maus" fígados da raia ao molho.

Comecei por fazer um refogado com 2 cebolas grandes às rodelas e azeite. Deixei alourar lentamente e depois juntei 1 folha de louro, três dentes de alho fatiados e 2 cravinhos. Posteriormente, adicionei uma lata pequena de tomate aos bocados, umas rodelas de chouriço, um pouco de pimento lampião, alguns filamentos de açafrão, sal e vinho branco (Bucelas). Deixei ganhar sabor e no final coloquei a raia já salgada (30 minutos) cerca de 10 minutos.

4 comentários:

  1. Fa,
    Creio que foi no Pantagruel que vi uma receita que incluia o figado da raia (ou seria outro peixe) para engrossar o molho.
    O meu D. adora raia cozida e eu de vez em quando lá lhe fazia a vontade, mas aquela pele grossa causava-me tanta impressão...nem imagina. Agora opto por comprar asas de raia congeladas, são muito saborosas e não me causam impressão alguma.
    Beijinhos

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  2. Ri-me imenso a imaginar a fa nessas peripécias!..
    Que aventura culinária;)
    Um beijo
    Babette
    PS. Apaguei sem querer o seu e-mail, queria responder pq penso que me enviou de outro endereço e agora estou em falta... quando puder mande-me outro!

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  3. Olá Carla,

    Acho que é uma boa sugestão. Para a próxima compro raia congelada.

    bjs

    Fa

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  4. Olá Babette,

    Nem imagina o cheiro a óleo de fígado, que cada era pior talvez por ficar mais concentrado à medida que fervia.

    Vou ter agora um período de aulas intensivo, que inclui também uma aula no Porto, mas vou e venho no mesmo dia por isso não conseguirei estar consigo. Vou enviar-lhe um mail.

    bjs

    Fa

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