terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
Bebe-se chá ...
Num pequeno pedacinho de papel de jornal tomei nota há alguns anos de uma frase que me tocou de forma particular - "Bebe-se chá para esquecer o ruído do mundo". Cada vez que preparo um chá tenho a sensação de estar a ganhar tempo de qualidade. Tempo de reflexão e de lazer. Um bem que na nossa sociedade continuamos a desprezar. Embora por estes dias o livro de Serge Latouche, Pequeno tratado do decrescimento sereno, tem-me mostrado que também podem existir outras formas de pensar a nossa relação com a natureza, e, neste caso estas visões nem provêm de naturalistas mas sim de economistas.
A nossa cozinha, entendo aqui este termo no sentido mais lato, é o local onde colocamos em prática muitas das nossas opções de vida. Estou a pensar no valor atribuído ao que se come, ao modo de preparar, à forma de servir, ao aproveitar e reciclar de alimentos, enfim todas aqueles pequenas decisões diárias muitas vezes inconscientes mas que acabam por ter mais significado do que aquele que lhe atribuímos. Tomar um chá é o exemplo de uma prática a que podemos atribuir múltiplos significados.
O meu ritual do chá, repetido várias vezes ao dia quando estou em casa, passa primeiro por escolher o tipo de chá, variável em função do horário. Depois colocar a água (Luso) na cafeteira e acertar a temperatura. Ter o cuidado, mesmo quando não se trata de um chá verde, de nunca deixar a água entrar em ebulição. Enquanto decorre este processo utilizo a espátula de madeira de cerejeira, para colocar as folhas no bule de vidro. Sobre elas verto a água com suavidade e logo de seguida viro a ampulheta para marcar o tempo. Gosto de ficar a observar as folhas que de forma lenta e gradual vão tombando no fundo do bule, por isso sirvo-me de um recipiente de vidro nesta fase. Aguardo de forma paciente que a areia fina passe pelo estrangulamento da ampulheta, enquanto escolho as chávenas/canecas e o bule para onde vou passar o chá, com a ajuda de uma coador de bambu. Depois é o prazer de beber o chá, aquecendo as mãos na chávena e sentindo o sabor e aroma que se desprendem deste precioso líquido. Observar a cor e o grau de transparência, deixando o tempo fluir. O "ruído do mundo" só é retomado a seguir.
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Eu adoraria saborear um bom chá...já tentei, mas não me sinto bem...(fico sempre com aquela sensação de "inchaço".Mas que beber é um ritual , sem dúvida que sim.
ResponderEliminarBeijinhos
Muito bonita, a descrição de um ritual. Que dá importância ao acto aparentemente tão insignificante de beber. Chá.
ResponderEliminarBeijinhos da Babette
Olá, Tuquinha
ResponderEliminarHá chás muito digestivos e se beber apenas uma chávena vai ver que até se sente bem. Eu gosto de comprar chá de folhas e de as deixar "soltas" no bule de vidro. Só depois passo para um segunde bule.
De manhã bebo habitualmente chá verde, depois passo para o branco ou para os wo-loongs durante a tarde e à noite fico-me por um chá verde torrado ou mesmo por um roibos (este não é propriamente chá, mas tem a vantagem não ter teína). bjs
Olá, Babette
ResponderEliminarÉ um ritual de calma. Por exemplo, recuso-me a utilizar o alarme da cozinha para me avisar que o chá está pronto. Gosto da minha tripla ampulheta com três cores - amarelo (5 m), laranja (4 m) e verde (3 m), em função de cada qualidade de chá. Embora às vezes altere os tempos de infusão e a meio precisa de virar a ampulheta. bjs
Fa,
ResponderEliminarDe facto, não consigo lembar-me de nenhum momento em que o ritual do chá não trouxesse consigo minutos de paz. Tomamos um chá e reconfortamo-nos. Até mesmo aqui, onde na minha secretária pousa uma caneca já vazia, só consigo associar o chá (mesmo sem ritual) a uma pausa de silêncio, um inspirar para retomar forças e voltar ao trabalho.
Beijinhos
Olá, Carla
ResponderEliminarConcordo totalmente consigo. A vontade de beber um chá surge sempre que necessito de parar, de ter uns momentos de paz. As minhas colegas até já me ofereceram uma caneca térmica para usar no trabalho. Quando faço férias levo-a comigo. bjs
Bom dia, Fa:
ResponderEliminarVou guardar essa frase guardada por si num pedaço de papel de jornal. Muito certa. Muito próxima do significado real de um ritual. Não de uma rotina. Mesmo que seja um hábito cumprido diariamente. Sabe qual o meu momento preferido deste ritual? Gosto muito do som da água a cair na chávena. Faz esquecer o ruído do mundo. Como vir aqui lê-la. Isso também faz esquecer o ruído do mundo. Obrigada por isso. E por estar aí. E escrever. E a existir de uma forma muito inteira.
Beijo da Mar.
PS: O meu marido comprou o livro de que fala. Uma coincidência boa!
Olá, Mar
ResponderEliminarObrigada. Ando a atravessar numa época de muito trabalho, por isso não tenho sido tão regular nas minhas entradas. Mas preciso, com urgência, de encontrar o equilíbrio. Gostei da coincidência. Às vezes fazia certas afirmações de forma tímida, mas agora tenho o conforto de estar respaldada por economista reconhecidos. Para além disso gosto sempre de estar a aprender e a conhecer novos pontos de vista.bjs